sábado, 18 de maio de 2013

as figuras de estilo nasceram num abraço- são tão incoerentes quanto uma pergunta tornada retórica. um abraço é uma hipérbole das aliterações do pensamento com o desejo- muitas vezes aliterações fingidas e tornadas em rimas exageradas. um abraço é uma frase que deseja já não voltar a ser dita por ninguém como as anáforas já enraizadas nas folhas de papiro, que todos insistem em apagar e reescrever incessantemente
sem paradoxos sem lamentações
como a vida. essa figura com falta de estilo, pleonasmo dos livros dos autores loucos
ironia

sábado, 11 de maio de 2013



ainda existem castelos e museus da tua pele entre as sombras do meu corpo. a morte das estrelas roubou-nos o fim e os navios atracam em silêncio. nas salas arrastamos o pudor das feridas e os incêndios das noites que passaram. permanecemos inquietos e falamo-nos em pontos finais. a cidade vive ausente de nós. as plantas crescem lá fora. esculpimo-nos com o olhar enquanto os espelhos nos mentem a nudez. os corredores negam-nos o chão e a luz. mas continuamo-nos certezas e amamo-nos no ventre da escuridão e nas raízes do instante.

sábado, 29 de dezembro de 2012


estamos sentados perante as palavras e a noite
e construímo-nos em trilhos de demora
onde nos habitamos em silêncio.
aqui, somo-nos certezas e vigiamo-nos dentro de muralhas e de medo
somos certezas  
quando a nossa pele se confunde
e gesticulamos a mesma sombra
Somos certezas
 quando nos recordamos e aguardamos pelas mesmas esperas
que nome terá o medo enquanto nos existirmos a sós?
que pergunta deve ser respondida na tua pele? teremos ao fim do dia a mesma cor abreviada da noite em que passámos a fumar e a acreditar
somos espelhos e so(m)bras
das danças que profanávamos pelas salas
na imensidão de ruínas e de movimentos ondeantes que formávamos nas carpetes e nas estrelas
enquanto te relembrava que não se(mente)
porque nos somos inexoravel(mente)
fora de nós existe apenas o vento
e a pressa que nos faz demorar em frente à janela
o estrondo, o ser-se demasiado
enquanto que dentro de  nós existem todas as palavras e todos os perigos, a
 memória transplantada dos dias frios e da amargura do anoitecer.
a sós ficamos imóveis e dançamos com as colinas.
continuamo-nos
com a mesma pressa e com o mesmo vagar.
E todos os dias nos renascemos na mesma cama e na mesma mesa de amor e de vírgulas de terror
E escondo com o rosto as partidas em direcção a ti, o meu destino exacto de terras estendidas ao luar
nós
 Animais de areia tão leves e complexos
Progenitores da noite e inventores dos silêncios.
O medo é isto: existir enquanto nada e coabitar enquanto tudo.
Estamos os dois nus perante as montanhas e a vida e na sala continuamos a nossa dança
transplantamo-nos de lugar e de espelhos mas   permanecemos fiéis às nossas firmes silhuetas de marfim e orgias.
na sorte abandonada que nos deu o corpo numa fotografia indesejada
guarda a loiça que profanámos enquanto aguardávamos a luta incessante entre as luzes dos candeeiros que se fundiam na nossa pele e que nos derretiam os abraços- abre os braços, dizias
a sós, somos lume e cinzas, 
somos um mesmo lugar
de planícies e de pele
e as tuas rugas são as minhas ruas
mas lentamente somos restos ruínas ruídos.
condenados às demoras soberbas
e tão certas quanto o medo de amar a morte
ou somente o medo de a morte amar o medo
escrevemos versos no pó dos móveis
e esquecemo-nos que as danças foram certezas.
continuamos sentados
é noite ainda
e sabemos que nos resta a vida
enquanto nos habituamos a morrer

terça-feira, 13 de março de 2012



Lix(o)boa
Há dias que transpiram feridas. Há corpos vestidos que se ferem. Há a tua voz que se veste na minha pele. Há a pele fria da chuva. Há a chuva caída dos braços do céu. Há os teus passos que caem envenenados. Há ruas passadas por gritos. Há ruelas que nascem de abismos. Há um temporal abismal. Há o tempo apertado no meu bolso. Há um aperto de mãos. Há todas as mãos que se desconhecem. Há um desconhecido que nasceu num poema. Há poesia que hiberna na Primavera. Há o museu primaveril de todas as coisas. Há o museu do teu corpo. Há corpos que se contemplam. Há a contemplação das varandas desnudadas. Há paredes nuas. Há pensamentos nas paredes. Hás tu a pensar num fim. Eu a ser uma folha. Há o metro em folhas e aço. Há um metro de guerra à minha volta. Há uma batalha de diálogos fingidos. Há dias proibidos.

Tenho a vida inteira numa gaveta e o corpo espesso e comprido desfeito em cursos de areia O outono desenha-me incêndios na pele abreviada de luz e certezas As entrelinhas da cidade são a fronteira do meu corpo perdido em ruínas e museus Semeio dias nas noites apressadas de princípios e de cigarros Fingi as palavras e o escuro Adormeci em metamorfoses de gestos e de esperma Há confissões escritas em ossos e mármores Segredos Desertos de mentiras e encruzilhadas Há vestígios do sol presos na pele do passado e o medo nos meus dedos Horas secretas de carne e de sangue na verdade primordial Fingi a sentença poética dos meus versos Fugi da sepultura do corpo e da vida Ficam a escravidão e as palavras onde eu me apressei a ser
Os relógios são o refúgio abalado que se procura entre o tempo imóvel São pedras pintadas de tamanha quietude movediça com os ponteiros alvejados ao mais inevitável crime de palavras Teatro etéreo de fogo e de mar Tragédia de eclipses e personagens imaginárias Refúgio de gritos desassossegos fados A-tensão: -) a tragédia está no último acto e as personagens esqueceram-se de morrer
O mundo repousava O infinito residia ali: na extensão dos nossos corpos a unirem-se num abraço O infinito acabava ali: entre dois corpos que sabiam o que era sentir o mundo sem a bússola para a eternidade