sábado, 29 de dezembro de 2012


estamos sentados perante as palavras e a noite
e construímo-nos em trilhos de demora
onde nos habitamos em silêncio.
aqui, somo-nos certezas e vigiamo-nos dentro de muralhas e de medo
somos certezas  
quando a nossa pele se confunde
e gesticulamos a mesma sombra
Somos certezas
 quando nos recordamos e aguardamos pelas mesmas esperas
que nome terá o medo enquanto nos existirmos a sós?
que pergunta deve ser respondida na tua pele? teremos ao fim do dia a mesma cor abreviada da noite em que passámos a fumar e a acreditar
somos espelhos e so(m)bras
das danças que profanávamos pelas salas
na imensidão de ruínas e de movimentos ondeantes que formávamos nas carpetes e nas estrelas
enquanto te relembrava que não se(mente)
porque nos somos inexoravel(mente)
fora de nós existe apenas o vento
e a pressa que nos faz demorar em frente à janela
o estrondo, o ser-se demasiado
enquanto que dentro de  nós existem todas as palavras e todos os perigos, a
 memória transplantada dos dias frios e da amargura do anoitecer.
a sós ficamos imóveis e dançamos com as colinas.
continuamo-nos
com a mesma pressa e com o mesmo vagar.
E todos os dias nos renascemos na mesma cama e na mesma mesa de amor e de vírgulas de terror
E escondo com o rosto as partidas em direcção a ti, o meu destino exacto de terras estendidas ao luar
nós
 Animais de areia tão leves e complexos
Progenitores da noite e inventores dos silêncios.
O medo é isto: existir enquanto nada e coabitar enquanto tudo.
Estamos os dois nus perante as montanhas e a vida e na sala continuamos a nossa dança
transplantamo-nos de lugar e de espelhos mas   permanecemos fiéis às nossas firmes silhuetas de marfim e orgias.
na sorte abandonada que nos deu o corpo numa fotografia indesejada
guarda a loiça que profanámos enquanto aguardávamos a luta incessante entre as luzes dos candeeiros que se fundiam na nossa pele e que nos derretiam os abraços- abre os braços, dizias
a sós, somos lume e cinzas, 
somos um mesmo lugar
de planícies e de pele
e as tuas rugas são as minhas ruas
mas lentamente somos restos ruínas ruídos.
condenados às demoras soberbas
e tão certas quanto o medo de amar a morte
ou somente o medo de a morte amar o medo
escrevemos versos no pó dos móveis
e esquecemo-nos que as danças foram certezas.
continuamos sentados
é noite ainda
e sabemos que nos resta a vida
enquanto nos habituamos a morrer

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